quarta-feira, janeiro 23, 2008

Orgulho



Tudo começou com um copo d'agua. Martin engoliu a seco, tudo que ouvira na noite passada.
Dizem que quando procuramos escutar demais, podemos ouvir o que não queremos. E nesta hora ele preferiu ser um surdo
ao qual pudesse apenas fechar os olhos para não ver a cena que instalaria em seu peito uma dor intermitente e assim ela
seria inofensiva.

As vibrações de quando ela chegara em casa eram tênuas, tensas. Ela abriu a porta de casa, olhou para TV ligada e foi para
cozinha.
Olhou pela janela, colocou suas mãos em cima da pia e esperou... esperou o beijo que ela saberia que chegaria. O beijo não
chegou, apenas um sentimento frio de solidão
ao qual ela demoraria para se acostumar. Tomou duas aspirina para falsear a vontade de enganar aquela dor de cabeça que
não queria cessar.

Subindo as escadas, ela desejou que nada tivesse acontecido, ela desejaria ser invisível naquele momento. Chegou ao quarto e
Martin estava sentando, esperando, calado. Uma explicação que só ela poderia dar. Uma explicação formal, que como um
contrato, ela pagaria a multa por reincidi-lo e a multa seria a solidão.
Sentando-se na cama de costas para Martin, ela abaixou a cabeça, com as mãos entre as pernas, esperando o momento de
quebrar o frio e silêncio do quarto.

- Então vai ser assim... você viu o que viu. Não posso fazer nada...
Martin confuso com tão grande frieza disse:
- Você quis assim... você não tem nada a me dizer?
_ Não, o que está feito, está feito.
_ O orgasmo valeu a pena?

Neste momento, o choro rolou, a mascara caiu... e o sofrimento de um erro orgulhoso se pôs a tona...
-Não... sinto muito... me perdoe...

Martin:

_ Então vai ser assim. Não posso fazer nada... o que está feito, está feito...

E a máscara do orgulho se pôs novamente...

 
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